DIA DO PROFESSOR
Uma
história que nem todos conhecem que mistura luta contra o racismo, valorização
de educadores e da Educação
(Pesquisa em vários sítios)
Antonieta foi uma das três primeiras mulheres
eleitas no Brasil naquela época, e sua bandeira política era o poder
revolucionário e libertador da educação para todos. Está entre as três
primeiras mulheres eleitas no Brasil. A única negra eleita em 1934
deputada estadual por Santa Catarina, mesmo ano que a médica Carlota Pereira de
Queirós foi eleita deputada federal por São Paulo. Sete anos antes, Alzira
Soriano havia sido eleita prefeita num pequeno município do Rio Grande do Norte, primeiro estado a permitir disputas
femininas.
De
acordo com a pesquisadora de Florianópolis, Aline Torres, “expoente da ideia ‘anárquica’
de que as mulheres deveriam
ter direito ao voto, a bióloga Bertha Lutz trocou inúmeras cartas
com Antonieta na década de 1930. Vale lembrar, Antonieta foi eleita menos de
meio século após a abolição da
escravatura e apenas dois do sufrágio — que deu às
mulheres direito ao voto facultativo. Num país fortemente preconceituoso quanto
à classe, cor e gênero tinha orgulho de sua história.
Antonieta
nasceu em Desterro, como era chamada Florianópolis, no dia 11 de julho de 1901.
A mãe era Catarina Waltrich, escrava liberta. No imaginário popular, a
verdadeira paternidade estaria ligada à família Ramos, uma das mais
tradicionais do Estado. A bandeira política de Antonieta era o poder
revolucionário e libertador da educação para todos. O analfabetismo em Santa
Catarina, em 1922, época que começou a lecionar era de 65%. Isso que o Estado,
sobretudo pela presença alemã, aparecia com um dos índices mais altos de escolarização
do país, seguidos por São Paulo.
Segundo
conta Karla Leonora Dahse Nunes na sua dissertação de mestrado, Catarina teve
três filhos e os sustentava como lavadeira, serviço comum às mulheres negras da
época. Também teve, com a ajuda financeira de Vidal Ramos, uma pequena pensão
para estudantes. Foram esses jovens que ensinaram as letras tardiamente para a
curiosa Antonieta. Alfabetizada, mergulhou por conta própria no universo dos
livros.
Professora
formada, tinha 17 anos quando fundou o curso particular “Antonieta de Barros”,
com o objetivo de combater o
analfabetismo de adultos carentes. Sua crença era que a
educação era a única arma capaz de libertar os desfavorecidos da servidão. Sua
fama de excelente profissional, no entanto, fez com que lecionasse também para
a elite nos Colégio Coração de Jesus, Dias Velho e Catarinense. Se existissem
barreiras, lá estaria Antonieta para rompê-las.
Sua
defesa acirrada pela educação fez com que ocupasse as páginas dos jornais. Além
de professora, virou cronista. Não havia outra mulher em posição semelhante no
Estado. Em 23 anos de contribuição à imprensa escreveu mais de mil artigos em
oito veículos e criou a revista Vida Ilhoa.
De
seus opositores nos jornais e nas bancadas, ouviu que “mulheres não deveriam
opinar, pois nasceram para servir”, “que a natureza não dá saltos, cada ser
deve conservar-se no seu setor, e a finalidade da mulher é ser mãe e ser rainha
do lar” e que “não seguisse o exemplo de Anita Garibaldi, uma vagabunda”.
Mas
aqueles homens brancos da elite oligárquica e política, não a intimidaram.
Antonieta era forte, mulher de fibra. Não havia quem tivesse argumentos para
calá-la. As calúnias eram rebatidas com intelecto e destreza nos artigos
assinados sob pseudônimo Maria da Ilha. Sua caneta era afrontosa. Escrevia
sobre educação, os
desmandos políticos e a condição feminina. Dizia que as mulheres não deveriam
ser ‘virgens
de ideias.
Honesta,
enérgica e humana, era respeitada e admirada por seu espírito de justiça. Tinha
voz numa época que as mulheres eram silenciadas. Escreveu dois capítulos da
Constituição catarinense, sobre Educação e Cultura e Funcionalismo, até ser
destituída do cargo pelo golpe de Getúlio Vargas.
Em
1937, publicou o livro Farrapos de Ideias. Os lucros da primeira edição
foram doados para construção de uma escola para abrigar crianças, filhas de
pais internados no leprosário Colônia Santa Tereza. A obra teve outras duas
edições.
Uma
das poucas frustrações da carreira de Antonieta foi não ter cursado o ensino
superior. Seu sonho era a Faculdade de Direito, exclusiva para homens. Mas na
política ela brilhou, foi eleita novamente em 1947. Desde sua vitória, apenas
outras 15 mulheres ocuparam uma cadeira na Assembleia de Santa Catarina.
Nenhuma negra. Antonieta ainda não teve herdeira de luta.
Por que 15 de outubro?
A primeira grande
lei educacional do Brasil foi sancionada por dom Pedro I em 15 de outubro de 1827, um marco para a educação brasileira. A data era comemorada informalmente,
mas foi um projeto de Antonieta a lei que criou o Dia do Professor e o feriado
escolar nessa data (Lei Nº 145, de 12 de outubro de 1948), em Santa Catarina. A
data seria oficializada no país inteiro somente 20 anos depois, em outubro de 1963,
pelo presidente da República, João Goulart.
Outras leis importantes foram concessões de bolsas de cursos superiores para
alunos carentes e concursos para o magistério, para elevar o ensino público e
evitar apadrinhamentos.
“A grandeza da vida, a magnitude da vida, gira
em torno da educação”, escreveu em seu livro. Seu nome deveria ser conhecido
por cada criança que homenageia seus professores no dia 15 de outubro. Por cada
mulher que exerce seu direito ao voto e disputa vagas nas eleições. Por fim,
por cada brasileiro que sai às ruas indignado com os preconceitos de cor,
classe e gênero.
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