terça-feira, 10 de julho de 2007

À sombra dos 50

Ousei! Ouso hoje escrever as primeiras linhas deste blog. Temi. Temi mas venci o medo. Quem sou eu?
Foi o professor (dileto amigo) José Roberto Pinto de Góes quem “batizou” este blog de Diário do Marquês. Uma referência nada compatível com o meu Marques de Moura. Aceitei. Confesso que gostei da idéia, apesar da pretensão. O “Zé” sempre me compreende nas entrelinhas do meu universo nada previsível.
Estou a completar os meus 50. Cinqüenta anos de idade. Meu Deus! Quanto tempo, meio século de vida. Diziam-me que este seria um ano muito bom para mim. O final “7” corroborava com o mito. Afinal, nasci em 27 do 7 de 1957. Tudo finalizado em “7”. E viveria muito bem o 2007.
Não foi bem assim.
Perdi meu pai em 27 (final 7) de janeiro deste ano, a quem devoto os tributos da minha ousadia de escrever. Depois, perdi um primo querido – doutor e professor de geofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Jadir Conceição da Silva - que muito tinha ainda a produzir no cenário técnico-científico no cenário acadêmico brasileiro. Pena! Perco eu, perde minha família e perde o País.
Não o bastante, tive outra perda. Esta eu não posso revelar. Só os amigos o sabem. Junto, muitas esperanças. Hei de recuperar-me, talvez. É assim a vida. Pode levar tempo. As lembranças hão de ficar. A saudade há de me insinuar, mas levarei a vida à frente. Vencerei? Não sei. Só o tempo dirá.
A sombra dos 50 me encobre o tempo inteiro nas passagens da hora. E às vezes me assombra. Quero me esgueirar e gritar um grito dos meus tempos da juventude, mas não consigo. Lutei! Lutei! Lutei pela anistia, pela redemocratização, pelo socialismo, pelo comunismo, pelo amor, pela paz. Mas lutei.
Eu vi a curva do vento que me trazia esperança. Eu vi o povo lutando por suas esperanças. Eu vi o Brasil votar com sonhos outrora esquecidos. Eu vi tantas coisas que já nem me lembro mais. Mas também vi o Muro de Berlim cair sobre minha cabeça. Esperanças perdidas. Inflexões extemporâneas nada adiantaram. O muro caiu.
Novo tempo, um novo tempo. Um novo sol há de brilhar no horizonte ao novo amanhecer. Estou à deriva neste mar de idéias, de um mundo que não concebia. Estou “meio que perdido”, como se diz agora, nesses novos tempos.
Decidi me dedicar à minha “Serra da Esperança”. O município da Serra, aqui no coração do Espírito Santo. A Serra que eu conheci vindo de Minas Gerais há exatamente 31 anos. Hoje sou “Cidadão Serrano” e ainda “Cidadão Espírito-Santense”. Títulos que me dão muito orgulho. Fruto das minhas lutas e também das minhas desventuras nesta terra onde a mistura étnica é mais contundente e construtiva que em qualquer outro estado brasileiro.
Afro-brasileiros, índios, italianos, italianos, alemães, pomeranos, luxemburgueses, suíços, um verdadeiro “caldeirão” étnico que nos faz diferenciados e, ao mesmo tempo, igualitários no torrão que nos acolheu e nos embalou em sonhos de prosperidade.
Doce palavra: igualdade! Igualdade em esperanças de ver um País melhor e mais justo. É assim que começo o meu blog. Recheado de sentimentos íntimos muitas vezes não perceptíveis ou não compreendidos pelos visitantes.
Mas é assim que começo um novo começo, como disse Drummond, “na vida de minhas retinas tão fatigadas”. Algo assim. Só pra começar esse novo começo. Uma tentativa de renascer das cinzas. E tentar viver e seguir em frente. Apesar de tudo.

10 comentários:

Unknown disse...

Querido e "cúmplice" amigo Aurélio,
com certeza completará esse meio século com muitas histórias para lembrar... mas acima de tudo, ainda com uma esperança sempre renovada, de que coisas novas e boas e principalmente pessoas novas e maravilhosas acontecerão na sua vida... você merece... é uma alma iluminada!!! Eu se já gostava de você há muitos anos... agora me sinto muito mais sua amiga... e não esqueça... sempre que precisar... se precisar... pode contar com a "maluca" aqui.
Beijos,
Fernanda

Unknown disse...

Empatamos então no dia 27, legal este blog, nem sabia que existia isto, como não sei de muita coisa, pensei que sabia, quase morri. Esperança é o que me mantém vivo, a messe é grande, mas poucos estão dispostos, precisamos elevar o interesse e a atitude consciente delas. Me ajude. Parabéns. Felicidades. Um abraço. Dinho.

Ana Luiza Paes Araújo disse...

Respondendo ao seu comentário no meu blog. Primeiro preciso agradecer a visita, obrigada!
Quanto ao "desertor cubano", o que me chamou a atenção não foi a fuga para tentar uma vida melhor num outro país, mas a maneira e a ocasião da fuga. Foi uma fuga desesperada de um cidadão que sabia que tinha talento, mas que não conseguiria uma vida digna no seu país através do seu trabalho. Por isso acho que a atitude daquele atleta deve ser chamada de deserção, mas foi sim um pedido de socorro a um pais onde as pessoas são livres. Ele não é o primeiro nem será o último a fugir de Cuba. Assim como muitos brasileiros fojem do Brasil rumo aos Estados Unidos para tentar ter um salário mais digno e uma vida mais confortável - ainda que pra isso tenham que trabalhar mais e aprender uma outra língua e cultura desconhecidas - os cubanos, que não se obrigam mais a viver sob a ditadura de Fidel, aqueles que não querem sofrer as durezas de um embargo do qual não têm culpa, estão buscando no Brasil, estados Unidos, e em outros países a liberdade que têm no seu e uma perspectiva de vida que lá é pequena. É claro que Cuba e Brasil têm as suas similitudes se olharmos a pobreza e os problemas sociais, mas o fardo aqui é mais leve porque vivemos numa democracia. Porcamente comparando, acho é como a escravidão brasileira e a norte-americana, aqui os escravos podiam ascender socialmente com uma facilidade muito maior que lá. Assim é a ilha de Fidel, uma ILHA.

Continue comentando lá, você é sempre bem-vindo.

José Roberto Pinto de Góes disse...

Você é Marquês por merecimento e títulos! Não está à deriva nem perdido. Está apenas entregue à sua própria consciência. E é Marquês também porque tem sabedoria para julgar.

José Roberto Pinto de Góes disse...

Ana Luiza tem razão. A sua bússola enlouqueceu, você não sabe mais onde é o Sul.

José Roberto Pinto de Góes disse...

Não se pode elogiar...

Ana Luiza Paes Araújo disse...

percebi que faltaram alguns "não"s no meu comentário. mas acho que deu pra entender. sabe como é, a pressa é inimiga da perfeição!
hahahahaha

Unknown disse...

"Deus, conceda-me serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso, e sabedoria para reconhecer a difernça."
Penso ser esta a oração, usada há muitos e muitos anos por grupos de mútua ajuda, com uma pouca diferença conforme a irmandade, como AA, NA e tantas outras, salvando milhares de pessoas no mundo inteiro, são verdadeiros milagres que acontecem nestas reuniões. Um beijo no coração. Dinho.

Alynne disse...

Pai, hoje, tenho metade de sua idade. E tenho a pretensão de viver, pelo menos, a metade de tudo que você já viveu!
Tenho ainda que aprender muito, e sei que você vai participar desse meu aprendizado.
Um beijão, pai!

jack disse...

I know that you did what should not in the past
I KNOW WHO ARE YOU AND YOU'RE DEEP IN TROUBLE. YOU'VE GOT TO BE CAREFUL
Don't do that again